Kendô é uma arte marcial japonesa moderna que evoluiu do combate com espadas do Japão feudal. O kendô moderno é praticado utilizando equipamento de proteção próprio como a espada de bambu e armadura, seu objetivo não é mais a simples derrota do oponente, mas, sim, extrair da luta de espadas a disciplina para aprimorar o corpo e a mente do praticante.
Como funciona o kendô
O kendô moderno é focado em quatro golpes, cujos nomes refletem o alvo que visam na armadura do oponente: men (máscara), kote (antebraço), dô (torso), tsuki (estocada). Os golpes deverão ser executados de modo a demonstrar conjugação de postura correta, ângulo e método corretos de utilizar a espada, e inequívoca força de vontade, além de atenção e preparo constante. Ataques tidos como acidentais ou em desacordo com esses elementos não serão validados em uma competição para incentivar a atitude correta do praticante. Além disso, há uma grande ênfase na etiqueta, o praticante deve, a todo momento, demonstrar respeito aos colegas, oponentes, alunos e professores. Além do treino com shinai, o kendô também possui um grupo de dez exercícios padronizados chamados kata, praticados com espadas de madeira, que mantém um elo com a esgrima japonesa antiga. O kendô-kata não é uma modalidade competitiva, mas engloba elementos históricos e lições importantes que podem ser extraídas para a luta.
Competição
O kendô como treinado atualmente é também um esporte competitivo, com campeonatos realizados anualmente a nível mundial, nacional e regional, porém dotado de grande subjetividade, sendo interação ação julgada por três árbitros que deverão decidir sobre a pontuação com base nos princípios da arte da espada. Não há meia pontuação, os cada golpe deverá ser decisivo. A competição de kendô pode ocorrer na modalidade individual ou em equipes, onde a equipe com mais vitórias individuais vence. Participar de campeonatos e encontros regionais é sempre uma excelente oportunidade de entrar em contato com praticantes de diversas regiões, idades e tempo de experiência.
Graduação
No kendô não se utilizam faixas coloridas ou outros indicativos oficiais de distinção de nível, porém, é esperado que o praticante participe regularmente de exames de graduação para fins de equilíbrio em competições, autoavaliação de desempenho e facilitação da organização de seminários e outros eventos em
grandes grupos. As graduações do kendô seguem o modelo kyû-dan difundido pelo judô, onde os níveis ‘kyû’ se destinam aos iniciantes e se referem ao entendimento básico da etiqueta, movimentação, uso correto da roupa e dos equipamentos, e os níveis ‘dan’ se referem ao aprendizado técnico e capacidade de colocar o treinamento em prática. A partir do 1° kyû, o último nível ‘kyû’ a ser obtido antes do 1° dan, os exames de graduação são coordenados diretamente pela Confederação Brasileira de Kendo e tem validade internacional; o último nível possível de se atingir hoje é o 8° dan, o exame só pode ser prestado no Japão ou na Coréia do Sul e já foi considerada uma das provas mais difíceis do mundo.
Equipamento
Para o treino de kendô utiliza-se um uniforme que consiste em uma jaqueta (kendô-gi) e uma calça larga (hakama) que remetem às vestimentas tradicionais dos samurais. O uniforme pode ser encontrado nas cores azul-marinho e branco, sendo o azul mais comum. Sobre a roupa, veste-se o bôgu, uma armadura que permite a prática segura do kendô protegendo os alvos durante a luta; o bôgu é composto do men (máscara), kote (luvas), dô (torso) e tare (saia). O instrumento utilizado para atacar chama-se shinai, é composto de quatro varetas de bambu unidas por partes de couro, e deve ser tratado de forma semelhante a uma espada real; o shinai deve ser utilizado para atacar unicamente os alvos protegidos pelo bôgu.
O Propósito do Kendô
A etiqueta é parte fundamental do kendô e reverências são práticas constantes nos dôjôs e refletem o ideal de cortesia e respeito presentes a todo momento, isso é intimamente ligado ao elemento cultural e filosófico do kendô. Em sua origem, a esgrima foi utilizada como ferramenta de guerra e suas técnicas eram voltadas para o combate. Olhando um pouco mais a fundo, é possível perceber que as artes marciais japonesas foram ganhando, com o passar do tempo, um conteúdo mais filosófico, educativo e cultural, tendo, inclusive, muitas obras literárias sido produzidas por espadachins da era feudal sobre aspectos imateriais da arte da espada.(1) É, a partir dessa lógica, que surge o que hoje entendemos como kendô; a transformação gradual da ênfase da esgrima de uma arte de guerra para uma arte desportiva e educativa finalmente levou a Federação Japonesa de Kendô a estabelecer formalmente o objetivo e o propósito do kendô em 1975:
O Conceito de Kendô O Conceito de kendô é disciplinar o caráter humano através da aplicação dos princípios da katana (espada). O Propósito de Praticar Kendô O propósito de praticar kendô é:
moldar a mente e o corpo,
cultivar um espírito vigoroso,
e, através do treino correto e rígido,
buscar o aperfeiçoamento na arte do kendô,
para estimar a cortesia humana e a honra,
para se relacionar com os outros com sinceridade,
e para sempre buscar o cultivo de si mesmo.
Assim será possível:
amar seu país e sociedade,
contribuir com o desenvolvimento cultural,
e promover a paz e a prosperidade entre todos os povos.
(20 de março de 1975, Federação Japonesa de Kendô)
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(1) – Ao contrário da crença de que as artes marciais apenas ganharam um sentido filosófico no século XX, obras como O Livro dos Cinco Anéis de Miyamoto Musashi, A Espada que Dá a Vida de Yagyû Munenori e A Mente Inabalável de Takuan Sôhô foram todas produzidas entre os séculos XVI e XVII.